Mandíbula

Uma leitura desconcertante, mas muito boa, que faz jus ao gênero do Horror. Aqui, o Horror Branco lembra muito o Horror Cósmico de Lovecraft.

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Mandíbula - Mónica Ojeda

Foi certamente uma leitura que me causou estranheza em diversos momentos, muito pela forma como Mónica constrói sua narrativa. Ela não segue um padrão entre os capítulos, mudando a forma de diálogo, sua intensidade e até mesmo o tempo-espaço. Muitas vezes, as mudanças não se limitam à transição dos capítulos, mas ocorrem também entre as linhas e parágrafos do mesmo capítulo.

Causa estranheza, mas provou ser uma forma bastante acertada de prender a atenção do leitor e também transmitir, como um fluxo psicológico, o horror que permeia todo o livro. A história é quase uma homenagem às creepypastas (histórias de terror publicadas na internet, muitas vezes apresentadas como verídicas) e ao Horror Cósmico de Lovecraft.

Um grupo de jovens meninas forma uma espécie de clube secreto em um prédio abandonado. Esse local acaba se tornando um lugar para as meninas extravasarem e liberarem todo o sentimento reprimido por sua criação (tanto na família quanto na escola). Isso me lembrou um pouco do mangá "Aku no Hana - As Flores do Mal" de Shūzō Oshimi; os temas das obras conversam um pouco. Jovens reprimidos com imagens comportadas experimentam a liberdade transgredindo, quebrando regras, sentindo-se vivos à medida que quebram e usam da violência, mostrando seus lados mais animalescos, explorando seus corpos e mentes.

Aku no Hana - As Flores do Mal de Shūzō Oshimi

Mónica Ojeda constrói uma narrativa de horror cheia de críticas válidas, como as relações complexas entre mães e filhas, hipocrisias religiosas, a sexualidade e descobertas sobre o corpo, bem como relações homoafetivas. Não vi ali um caráter panfletório, e realmente todos esses ganchos servem para fazer o leitor entrar no clima do horror.

Essas meninas acabam criando jogos que progridem a ponto de serem realmente letais. Somos apresentados ao Horror Branco, que é o que não pode ser visto, mas apenas sentido, e ao Deus Branco, esta última uma entidade inventada por uma das personagens, que vai se tornando real à medida que mais histórias são contadas e sentidas pelas meninas. Entretanto, como em certa altura um personagem fala, não é porque é inventado que não sentimos medo.

Como bom apreciador de literatura de terror e horror, como Poe, Stephen King e Lovecraft, eu realmente apreciei essa leitura e fiquei bastante feliz por ter encontrado algo que segue a linha de Lovecraft sendo produzido por esse lado dos trópicos (Mónica Ojeda é equatoriana). Recomendo muito a leitura; deu-me vontade de maratonar Lovecraft.



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