Os Miseráveis: Finalmente terminei - e foi um bocado de tempo!

Morrer não é nada; horrível é não viver.

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Foram três meses e, nesse meio-tempo, precisei pausar a leitura várias vezes, alternar com algo mais leve, um besteirol qualquer, para então voltar com tudo. É uma leitura difícil, principalmente pelo estilo de Victor Hugo.

Essa leitura rendeu três publicações, eu planejava escrever mais mas me conheço, ia ser quase impossível:

Ele não economiza palavras e não hesita em se desviar do assunto principal só para contextualizar eventos históricos, descrever cidades - e até mesmo redes de esgoto! Ele dedica capítulos inteiros, aparentemente desconectados da trama principal, a essas descrições. Mas não se engane: tudo tem um motivo. Hugo quer nos ensinar algo o tempo todo, e tudo ali tem um porquê.

É cansativo, sim, mas não menos avassalador. Trata-se de um romance incrível, que fala sobre justiça, bondade, empatia. Hugo mostra que a justiça (a lei absoluta) deve vir acompanhada de empatia, pois, do contrário, é apenas um dever cego.

Não sei se concordo plenamente com o que Victor Hugo tenta ensinar, mas há verdade no que ele mostra. Sabemos que o mundo é frequentemente nebuloso, que as pessoas vivem constantemente entre o bem e o mal, entre a legalidade e o crime. Hugo retrata, em diversas situações, como as pessoas podem se degradar, seja pela miséria, pela criação, ou pelo abandono da sociedade...

Felizmente, ele também mostra que, mesmo alguém afundado no abismo, ainda pode escolher manter sua integridade. É verdade que, muitas vezes, essa escolha depende do apoio de outras pessoas: aquelas que ajudam, que têm empatia, que entendem. Ainda assim, acredito que, mesmo sem esse suporte moral, ainda existe a escolha pessoal: manter-se firme ou se quebrar, por mais difícil que seja.

Não digo tão facilmente que alguém é "mal" apenas por não ter tido oportunidades ou por ter sido marginalizado. Mas isso não invalida o argumento central de Hugo: a justiça deve vir temperada com empatia.

Seu protagonista, Jean Valjean, é tentado ao longo de todo o romance a trair seus princípios e, brava e dolorosamente, termina íntegro. Mas não nos esqueçamos: isso só foi possível graças ao salto de fé do Bispo Bienvenu, logo no início da história. Sem aquele gesto de bondade, caridade e compaixão, Jean teria afundado no abismo do ódio. Ele não seria nosso herói.

Vale lembrar o oposto de Jean: Javert.
Quem é Javert? O inspetor que persegue Jean durante anos, em nome da Justiça. Javert decidiu viver em obediência total à lei. Sua moral se baseia na autoridade e na punição. Para ele, quem comete um crime deve pagar, sem exceções. Ele representa a lei implacável, o dever cego.

Seu ponto de ruptura ocorre quando Jean poupa sua vida durante a revolução, mesmo tendo a chance de matá-lo. Mais tarde, Jean se entrega a Javert, sem resistir. Isso destrói a lógica binária que sustentava Javert: como pode um criminoso ser mais justo e misericordioso que a própria lei?

Esse dilema ético e existencial leva Javert a uma crise profunda. Ele percebe que a aplicação cega da lei pode, sim, ser injusta. Jean, o homem que ele julgava irrecuperável, é, na verdade, mais nobre do que ele próprio. E Javert simplesmente não consegue viver num mundo onde a moral é relativa, onde há compaixão, perdão, nuances.

Diferente de Jean, que mudou, que lutou contra o ódio dentro de si, que perdoou, amou e se entregou pelos outros, Javert não suporta esse novo mundo. Por isso, se joga no Sena. Comete suicídio.

Com isso, Victor Hugo mostra que a justiça verdadeira precisa ser temperada com misericórdia.

E aqui, respeitosamente, discordo e peço desculpas, caros leitores. Concordo com a filósofa Ayn Rand: compaixão não pode substituir a razão, nem a justiça objetiva. A bondade que nega a lógica ou recompensa quem errou pode ser destrutiva.

Jean Valjean é um herói que se sacrifica por todos, vive com culpa e abnegação, mesmo fazendo o bem, e coloca o bem-estar dos outros acima de seu próprio direito à felicidade. Isso me incomoda.

Mesmo discordando, não posso negar o quão avassaladora, bela e emocionante é a história de Os Miseráveis. Aplaudo o compromisso de Victor Hugo com ideais elevados, onde os personagens têm peso moral e buscam coerência.

Adoro histórias assim, com vilões bem definidos, verdadeiramente quebrados, e heróis que, apesar dos percalços, permanecem íntegros. A arte deve mostrar o melhor do ser humano, daí o gênero romance.

Um bom exemplo moderno é o filme Superman (2025): o Superman retratado ali é íntegro, até ingênuo em certos momentos, mas sua presença transmite algo essencial ao espectador, uma mensagem clara e poderosa: "Está vendo? É isso que precisamos buscar."

Por isso, obras como As Crônicas de Gelo e Fogo (que eu gosto) me causam certo desconforto: personagens dúbios, morais nebulosas, podem confundir o leitor, como se dissesse: “tudo bem fazer coisas ruins de vez em quando, ninguém é perfeito”.

Já Hugo idealiza o homem na abnegação, vivendo pelo próximo, praticando o amor e o perdão, de maneira que muitos de nós acharíamos irreal. Mas lembre-se: é um romance, e Hugo quer nos instruir.

Realmente: bravo!


Nada é bastante para o amor. Temos a felicidade, desejamos o paraíso; temos o paraíso, desejamos o céu.

Morrer não é nada; horrível é não viver.

— O que é barato, hoje em dia? Está tudo caro. Só a miséria do mundo é barata; não custa nada o sofrimento do mundo!

Suportou tudo em matéria de privação; fez de tudo, menos contrair dívidas. Podia afirmar que jamais ficara devendo um soldo a ninguém. Para ele, uma dívida era o começo de uma escravidão. Dizia até que um credor é pior que um amo, porque um amo apodera-se apenas de sua pessoa, mas um credor apodera-se de sua dignidade e pode esbofeteá-la. Preferia não comer a pedir emprestado. Passara muitos dias em jejum.

A vida, a desgraça, o isolamento, o abandono, a pobreza são campos de batalha que têm seus heróis, heróis obscuros, às vezes maiores que os heróis ilustres.

Admirável e terrível provação da qual os fracos saem infames e os fortes saem sublimes. Cadinho em que o destino lança um homem todas as vezes que quer obter um miserável ou um semideus.

O que é essa história de Fantine? É a sociedade comprando uma escrava. De quem? Da miséria.

“Lembre-se de que me prometeu tornar-se um homem de bem. Acabo de comprar-lhe a alma. Furto-a ao espírito de perdição para entregá-la a Deus!”

Liberdade não é estar solto. Pode-se sair da prisão, mas não da condenação.

Quem se sente oprimido não olha para trás e sabe muito bem que a má sorte o persegue.

Diga-se de passagem, não seria inteligente nutrir ódio pelo luxo. Esse ódio implicaria o ódio às artes.

— Ó você! Ó ideal! Só você existe! O bispo sentiu uma inexprimível comoção. Após alguns momentos de silêncio, o convencional, apontando um dedo para o céu, disse: — Existe o infinito. Ele está aí. Se o infinito não tivesse um “eu”, o eu seria o seu limite; e ele não seria infinito; em outras palavras, não existiria. Ora, ele existe. Logo tem um eu. Esse eu do infinito é Deus.

Sim, as brutalidades do progresso chamam-se revoluções! Depois de acabadas, reconhece-se uma coisa: que o gênero humano foi maltratado, mas que deu alguns passos adiante!

Senhor, a inocência é coroa de si mesma. A inocência é alteza. É augusta estando esfarrapada ou coberta de flores.

Não basta acabar com os abusos, é preciso modificar os costumes. O moinho se foi, mas o vento ainda permanece.

“Nunca temamos nem os ladrões nem os assassinos. Estes são perigos externos, pequenos perigos. Temamos a nós mesmos. Os preconceitos, esses são os ladrões; os vícios, esses são os assassinos. Os grandes perigos estão dentro de nós. Que importa o que ameaça nossa vida ou nossas bolsas?! Preocupemo-nos apenas com o que ameaça nossa alma”.

“Não perguntem o nome a quem lhes pede ajuda. É sobretudo aquele a quem o nome constrange que necessita de asilo”.

“Aos ignorantes, ensinem o máximo de coisas que puderem; a sociedade é culpada por não ministrar a instrução gratuita; ela é responsável pelas trevas que produz. Uma alma cheia de sombras, é onde o pecado acontece. A culpa não é de quem pecou, mas de quem fez a sombra”.

“O homem tem sobre si a carne, que é ao mesmo tempo seu fardo e sua tentação. Ela o arrasta, e ele cede. Seu dever é vigiá-la, contê-la, reprimi-la, e obedecer a ela só em último caso. Nessa obediência ainda pode haver culpa, mas trata-se de uma culpa venial. É uma queda, mas uma queda de joelhos, que pode terminar em oração. Ser santo é uma exceção; a regra é ser justo. Errem, caiam, pequem, mas sejam justos. Pecar o menos possível é a obrigação de todo homem; não pecar nunca é o sonho do anjo. Tudo o que é terrestre está sujeito ao pecado. O pecado é uma gravitação.”

Verdade ou não, o que se diz a respeito dos homens ocupa muitas vezes em sua vida, e sobretudo em seu destino, um lugar tão importante quanto aquilo que fazem.



Eu não sou um robô 😁Feito por um humano 😉

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